O banco central do Brasil elevou sua taxa de juros pela décima vez consecutiva na quarta-feira, tentando domar a inflação que se mostrou difícil de desacelerar para os formuladores de políticas na maior economia da América Latina.
Dizendo que a inflação “continuou surpreendendo negativamente”, o comitê de política monetária do banco elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 12,75 por cento, em linha com as previsões dos analistas.
As condições da economia global “continuaram a se deteriorar”, disse o banco em comunicado.
“A pressão inflacionária decorrente do [coronavirus] A pandemia se intensificou, com problemas de abastecimento causados pela nova onda de Covid-19 na China e pela guerra na Ucrânia.”
O aperto monetário dos países mais ricos do mundo também está “aumentando a incerteza e criando volatilidade adicional, principalmente para os países emergentes”, disse.
A medida ocorreu no mesmo dia em que o Federal Reserve dos EUA elevou sua principal taxa de juros em meio ponto percentual – sua maior alta desde 2000 – e indicou que mais aperto estava a caminho, também tentando desacelerar a inflação crescente.
No Brasil, a decisão unânime dos nove membros do comitê elevou a Selic ao seu nível mais alto desde fevereiro de 2017, quando ficou em 13%.
O banco disse que espera outro aumento de juros “de menor magnitude” em sua próxima reunião, de 14 a 15 de junho.
‘Cuidado extra’
O Brasil está em um dos ciclos de aperto de juros mais agressivos do mundo, lutando para controlar a espiral de preços impulsionada primeiro pelo impacto da pandemia de coronavírus e depois pela guerra na Ucrânia.
A taxa de inflação anual do Brasil está em 11,3%, muito acima da meta do banco central de 3,5%.
O indicador de inflação do meio do mês passado sugere que o problema está piorando: atingiu uma alta de 27 anos em abril.
O aumento dos preços e a desaceleração da economia em geral são pontos fracos para o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que se candidata à reeleição em outubro e atualmente está atrás do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.
O banco central enfrenta um difícil ato de equilíbrio, encarregado de desacelerar a inflação sem frear a economia com tanta força que atrapalhe o crescimento.
Analistas consultados pelo banco atualmente preveem que a economia crescerá 0,7 por cento este ano.
Mas o banco ainda parecia mais preocupado com a inflação do que com o baixo crescimento, dizendo que os indicadores de atividade econômica estavam “em linha com as expectativas do comitê”.
No entanto, alertou que a situação era particularmente volátil e imprevisível.
“O comitê observa que o alto nível de incerteza nas perspectivas atuais, bem como o estágio avançado do ciclo de aperto e seus impactos ainda pendentes, exigem cautela extra”, afirmou.
O banco central do Brasil iniciou seu atual ciclo de aperto em março de 2021, elevando rapidamente a Selic de uma baixa histórica de 2% introduzida para estimular a economia atingida pela pandemia.
– HORÁRIOS / AFP