Prevê-se que as taxas de juros no Brasil subam mais do que o previsto, à medida que as autoridades buscam conter a inflação acentuada que está sendo exacerbada pela guerra na Ucrânia.
O banco central do Brasil já era um dos mais agressivos do mundo, usando uma série de aumentos de juros para elevar sua taxa básica de juros Selic de 2% no ano passado para 10,75% no mês passado. Economistas esperam que a Selic suba mais 1 ponto percentual, para 11,75% na quarta-feira, o nível mais alto em cinco anos.
Agora, uma pesquisa do Valor, um grupo de mídia empresarial, com 91 projeções de economistas divulgada esta semana, descobriu que a previsão mediana para a Selic subiu para 12,75% até o final do ano, já que a guerra da Rússia na Ucrânia desencadeou um aumento nas taxas de juros. preços de commodities, principalmente em petróleo e produtos agrícolas. Este é um aumento em relação ao consenso anterior de 12,25%.
“A inflação e as taxas de juros agora devem subir e permanecer mais altas por mais tempo”, disse Armando Castelar, economista do Instituto Brasileiro de Economia.
“A crise geopolítica impacta a inflação brasileira por causa das commodities”, disse Ariane Benedito, economista da CM Capital Markets. “Quinze por cento do IPCA, principal indicador de inflação do Brasil, é impactado diretamente pelo aumento dos preços internacionais das commodities agrícolas e energéticas.”
A inflação no Brasil está em torno de 10,5%, alimentando o descontentamento principalmente entre os cidadãos mais pobres, que sofreram o impacto dos aumentos de preços. Os preços ao consumidor subiram mais de 1% no mês passado, acima das expectativas do mercado, e a questão está entre os tópicos mais importantes para os eleitores nas eleições presidenciais deste ano.
“A inflação é generalizada, mas temos uma pressão maior principalmente em itens como alimentos, gás e energia elétrica – categorias que pesam mais sobre a classe trabalhadora”, disse Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. “Esta é a grande questão.”
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, que está atrás nas pesquisas antes das eleições de outubro, tentou resolver a questão apresentando medidas como um projeto de lei para reduzir impostos sobre diesel e combustível de aviação. Ele também disse que seu governo está estudando medidas para eliminar os impostos federais sobre a gasolina, embora os críticos tenham alertado que isso provavelmente não ajudará os brasileiros mais afetados pelo aumento dos preços.
“Não acho que essa redução de impostos vá ajudar na popularidade de Bolsonaro [as] Não acredito que vá afetar os consumidores. A maioria se transformará em maiores margens de lucro para os empresários” da cadeia de abastecimento de combustíveis, disse Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset.
Uma pesquisa de opinião divulgada este mês pelo grupo de pesquisa Ipespe mostrou que Bolsonaro perderia uma disputa de segundo turno contra o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
O aumento das taxas de juros aumentará a pressão sobre o crescimento econômico, já que empresas e consumidores evitam grandes compras.
“Os aumentos do ano passado terão impacto no crescimento deste ano. Mas o impacto da próxima alta das taxas de juros será sentido principalmente no próximo ano”, disse Castelar.
Mesmo antes da crise na Ucrânia, a maioria dos economistas previa que a economia brasileira cresceria menos de 1% este ano, enquanto alguns analistas previam uma recessão.