Bolsonaro pressiona pela mineração em terras indígenas do Brasil, citando pitada de fertilizante

BRASÍLIA, 9 Mar (Reuters) – O presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, aproveitou a escassez global de fertilizantes causada pela guerra na Ucrânia para pressionar por uma lei que permitiria a mineração em reservas indígenas.

O chefe do governo na Câmara dos Deputados reuniu assinaturas suficientes na terça-feira para acelerar o projeto de lei conhecido como PL 191/2020, o que significa que pode ser votado sem audiências do comitê, disse o gabinete do presidente.

O Brasil, um dos maiores produtores mundiais de alimentos e o maior importador de potássio, depende da importação de 85% dos fertilizantes para suas lavouras de grãos. Um quarto da demanda de potássio do Brasil geralmente é atendida pela Rússia, que interrompeu as exportações.

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O Brasil tem grandes reservas de potássio no subsolo da floresta amazônica, inclusive dentro e ao redor de terras habitadas por indígenas, cujas preocupações têm paralisado alguns projetos de mineração há anos, notadamente o projeto Autazes, controlado pelo banco de investimentos canadense Forbes & Manhattan.

Bolsonaro, que reduziu a fiscalização ambiental na Amazônia e financiou a agência governamental de proteção indígena Funai, há muito pressiona por mais mineração e agricultura comercial na Amazônia para criar empregos e reduzir a pobreza.

“Esta crise entre a Ucrânia e a Rússia é uma boa oportunidade para nós. Temos um projeto de lei no Congresso que nos permitirá explorar essas terras indígenas”, disse ele na segunda-feira em uma entrevista de rádio.

Grupos ambientais e de direitos humanos, geólogos e até promotores federais alertam que Bolsonaro está usando o pretexto da crise na Ucrânia para apressar um projeto de lei que permitiria mineração, exploração de petróleo e barragens hidrelétricas em terras indígenas protegidas pela Constituição do Brasil.

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“São atividades que hoje não são permitidas em terras indígenas”, disse Suzi Huff Theodoro, geóloga e professora da Universidade de Brasília.

Mesmo que as reservas minerais não estejam exatamente sob terras indígenas protegidas, deve haver uma área de amortecimento para isolar as comunidades tribais adjacentes dos impactos sociais e ambientais da mineração, disse ela.

O Ministério Público para casos indígenas disse em comunicado que o projeto é inconstitucional e pode causar o desaparecimento de algumas tribos indígenas na Amazônia.

O poderoso lobby agrícola do Brasil domina o Congresso e apóia a aprovação do projeto de lei, que pode ser aprovado na Câmara já na quarta-feira se os líderes do partido concordarem em colocá-lo em votação.

Pesquisadores brasileiros argumentaram esta semana que Bolsonaro está usando falsamente a crise da Ucrânia para avançar no projeto de mineração porque a maioria das reservas comprovadas de potássio do país não estão localizadas em reservas indígenas.

Apenas um terço dessas reservas estão na Amazônia e apenas 11% estão em terras reivindicadas por comunidades indígenas, segundo estudo da Universidade de Minas Gerais.

As reservas podem cobrir as demandas de potássio do Brasil até o ano 2100, de acordo com o estudo, que deve ser publicado na próxima semana.

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Reportagem de Anthony Boadle, com reportagem adicional de Lisandra Paraguassu; Edição por Brad Haynes e Jonathan Oatis

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